Foto Digital com Dona Nina do Restaurante

Publicado em 2012

Atualizado em 01 de junho de 2019

Que jogue o primeiro garfo quem nunca comeu na Dona Nina. Eu jogo garfo, faca, colher, prato e tudo mais, pois sempre fui e sou um assíduo frequentador deste restaurante que marcou a minha vida e ainda marca nestes 25 anos de existência no mercado de São Luís.

Na foto, da esquerda para direita, o filho (Demosthenes), neta (Érica), Filha (Kátia), neta (Kléu), neto (Bruno) e neto (Uirá) e claro a Dona Nina. 

E para começar vou fazer a primeira revelação que muitos não sabem, o verdadeiro nome da Dona Nina: Cosmina Aulisio Mantovani, filha de italianos, essa paulista, nascida na cidade de Monteiro Lobato, que fez de São Luís sua verdadeira terra natal.

Quem não conhece aquele famoso bife à parmegiana, sua torta de camarão, empadão de frango, aquela feijoada deliciosa? Se você não conhece e por acaso está lendo a matéria no domingo, pela manhã, tem tempo de ir ao Restaurante da Dona Nina, no São Francisco e escolher um destes pratos. Mas, para chegar ao ponto de abrir de domingo a domingo, Dona Nina tem uma história rica para contar e para ensinar aquele povo que adora carteira assinada e que pensa que só assim poderá ter segurança na vida.  Filha de italianos e como uma boa dona-de-casa, nunca foi de ficar parada e junto com o marido montaram o seu primeiro negócio que foi um bar em São Paulo, no Bairro da Barra Funda. Em seguida resolveram partir para uma padaria em Ourinhos, o que já seria o seu segundo negócio. Sempre como proprietária, o marido cuidava das finanças, ela da barriga dos clientes o que sempre foi o seu forte, com o crescimento partiram para o terceiro projeto mais audacioso que foi um hotel e fez muito sucesso, porém, quis o destino que o casal decidisse viver separado, o que lá pelos anos 50/60 já seria uma grande audácia para uma mulher. Dona Nina pode ter até se assustado, mas nunca se abalado. Partiu para mais um negócio e montou uma loja de doces, mas quem conhece um pouco o sangue do italiano e entende o lado maternal da italiana, sabe que os filhos falam muito mais ao coração, por isso um dos seus filhos, Demosthenes tinha passado no concurso na UFMA- Universidade Federal do Maranhão para ser professor no Curso de Educação Física e a filha, Kátia, em visita ao irmão, José, decidiu fixar residência em São Luís e convidou a mãe para vir morar na cidade e não deu outra, lá veio a Dona Nina para Ilha do amor e ficou enamorada pelos encantos deste paraíso tropical e este amor passou a ser eterno.

Voltando à empreendedora Nina, apesar da minguada aposentadoria, – ah, lembrei-me da aposentadoria da minha mãe, ela até poderia ficar em casa, pois tinha condições para isso, mas vai falar para uma filha de italiano para ficar em casa, ela não fica! Com o tino para os negócios, percebeu no bairro da Cohama que havia um Sacolão muito movimentado, pediu autorização e montou uma pequena barraca onde fazia, na hora, salgadinhos, o que virou um sucesso e surgiu o seu primeiro apelido: a senhora dos salgados. O sucesso foi grande e o preço baixo – sempre o grande segredo da Dona Nina, fazia as pessoas comprarem para revender. Ela chegava cedo e só voltava para casa quando tudo acabava. Quem olha hoje pensa que ela começou com tudo pronto, pobre cara pálida que não sabe o que é lutar. Um cliente notou que ela ficava na parte da tarde no sol e indicou uma pessoa que tinha uma loja na cabeceira da Ponte do São Francisco e que ela poderia fazer negócio lá. Ela foi visitá-lo e a arrendou no ano de 1983 e ficou fornecendo refeições e salgadinhos até 1985. No ano 1987 ela montou uma loja no Centro, na rua Godofredo Viana e em seguida, comprou um ponto no São Francisco, onde hoje fica a sua sede e criou o seu negócio. Quando abriu sua empresa ela não tinha nome, queria homenagear um santo, ela é católica, mas um cliente, o Sr. Brandão, muito inteligente e abençoado por Deus, sugeriu que o nome do Restaurante fosse Dona Nina e o nome pegou e hoje a empresa é uma das maiores deste setor. Alguns casos chamam a atenção neste tempo de existência. Uma vez ela foi notificada por uma empresa, de forma até rude e ao chegar foi chamada a atenção pela qualidade da comida fornecida, com aquele jeito tranqüilo de falar pediu a nota que deveria estar junto com as marmitas e foi neste momento que descobriu que um outra pessoa estava usando o nome da sua empresa  para fornecer quentinhas para os clientes. Outro ponto interessante é que mesmo com o expediente fechado, Dona Nina tinha que ir para cozinha e salvar donas-de-casa que receberam visitas inesperadas e sem comida para oferecer tiveram nela o socorro.

Hoje, ela emprega de forma direta e indireta mais de 20 pessoas. No começo ela acordava às 4 horas da manhã para sair comprando produtos, hoje são os fornecedores que batem na sua porta, seus clientes são variados e ela não faz discriminação, só exige o respeito. Com Dona Nina muitos hábitos foram mudados, a tradição de se fazer almoço em casa foi quebrada. Com a comida do estilo caseira como é feita até hoje, muitas delas com sua supervisão, é muito comum as pessoas irem buscar o prato principal que será servido em casa. No final de ano, ela não consegue dar vazão a quantidade de pedidos para Ceia de Natal.

Dona Nina não pára, quando fui entrevistá-la, meu relógio já marcava 15 horas e ela estava sentada próxima ao telefone, esperando ligações, com 87 anos, além dos 6 filhos, ela tem 10 netos e 2 bisnetos, sem falar na sua família de funcionários que muitos se aposentaram trabalhando com ela e continuam voltando para trabalhar quando necessário. Toda São Luís de uma forma ou de outra, alguns mais, alguns menos já comeram das refeições da Dona Nina, seja em casa ou no trabalho, pois ela fornece para muitos bairros e empresas.

Quis o destino, mas acho que foi Deus mesmo, que ela não desse o nome do Restaurante de um Santo, pois se a gula é um pecado, seria constrangedor ter que pagar todo dia a conta ao Santo pelo pecado cometido. Obrigado seu Brandão – o seu com s minúsculo, pois não é santo, por ter batizado o Restaurante de Dona Nina, os bons pecadores agradecem.