Carlos Gaspar um vencedor

Atualizado em 30/ 05/2019 – Publicado em 2008

Carlos Tadeu Pinheiro Gaspar, 69 anos, nascido em Viana, Maranhão. Um homem que venceu e como poucos, sabe usufruir dessa vitória com equilíbrio e serenidade. Mas, o que para muitos vencer é o reconhecimento material, para ele não é só isso.

É saber que hoje venceu, pois tem um casamento de 45 anos, uma filha que é sua paixão, seus momentos com os amigos e poder fazer uma coisa que ama muito: escrever. O dinheiro? É importante, mas não ao ponto de modificar a essência do homem e isso ele não deixou acontecer. Carlos Gaspar nosso Foto Digital desta semana.

Enfim consegui minha matéria. A entrevista estava marcada para depois da 10 horas da manhã, da última terça-feira. Cheguei às 11 horas, um pouco atrasado o que não é normal, pois sou pontual. Tenho certeza que fui perdoado, ele já havia marcada outras e teve que transferir. Surpreendi-me ao encontrá-lo sentado no salão de vendas, bem na entrada conversando com os vendedores. Logo descobri que é um dos grandes motivos que o anima a vir trabalhar: o contato com seus funcionários.

Fomos para sua sala, bem simples, sentamos em sua mesa de reunião. Seus móveis são do estilo clássico que o acompanham há algum tempo e é um bom ambiente para se trabalhar. Como um bom homem de negócios foi dele a primeira pergunta. “Quanto vai custar a matéria?”. Dei um sorriso tímido e respondi que não cobro para fazer isso e que se tivesse preço seria a honra de entrevistá-lo. Ali acho que comecei a tomar conta da minha matéria.

Aproveitei o embalo e iniciei minha conversa com ele. Carlos Gaspar é casado com Paula Gaspar há 45 anos e fala isso com muito orgulho. Tem uma filha, Socorro Gaspar que ao falar dela os olhos brilham, pois para ele é seu grande amor. Sua família como ele mesmo define: “sem ela me sinto perdido”, é sua força e sua base e neste ponto o empresário se transforme e fica emocionado. Não perco tempo e pergunto quando começou a trabalhar e me surpreendo mais uma vez: Carlos Gaspar iniciou sua vida de trabalho aos 10 anos, no armazém de secos e molhados do seu pai Armando Gaspar.

Mas, quem acha que ele falou isso triste, enganou-se. Ele tem muito orgulho disso tudo. Acordava cedo, chegava às 6h da manhã, dava uma parada para o almoço e só terminava de trabalhar às 19h. Fazia o trabalho de serviços gerais: limpava chão, carregava sacos, atendia ao público e tudo que fosse preciso. O salário era de 400 mil réis, talvez um salário mínimo na época. Ele usava para comprar os produtos de necessidades básicas pessoais, pois como já trabalhava só recebia casa, comida e roupa lavada do seu Armando. Sábias criações daquela época.

Em cada palavra sobre negócios o seu pai aparece. Ele foi na vida de Carlos Gaspar, muito mais que o pai, mas acima de tudo sua referência, professor e sua estrutura moral. Foi com ele que aprendeu a negociar, entender sobre finanças e com seu pai teve a melhor experiência de sua vida. A confiança depositada no jovem Carlos que aos 25 anos passou a ser sócio de fato da empresa junto com seu irmão Raimundo Gaspar.

São Luís crescia e aquele jovem que começou aos 10 anos trabalhando em serviços gerais, aos 25 anos já era técnico em contabilidade, formado em direito, história e geografia. Vivia para o trabalho no armazém na Rua da Estrela, fazia negócios e nem imaginava que seu mundo ainda nem tinha começado.

Um momento importante na vida profissional de Carlos Gaspar foi a compra da indústria de óleo babaçu. Seu pai, conservador, achava que vender a amêndoa ainda era o melhor caminho e ele vislumbrou que produzir o óleo, apesar do custo do investimento seria melhor. Não deu outra, Carlos Gaspar estava certo.

Ele não teve a opção de escolher em ser empresário. Seguiu com obediência e aprendeu a amar o mundo dos negócios. Claro que a situação da família de já possuir uma empresa acabou levando Carlos Gaspar para este caminho. Mas, foi seu pai o grande incentivador para que ele fizesse o curso de direito e caso o mundo dos negócios não tivesse se apresentado, talvez o Maranhão hoje tivesse um magistrado, pois isso poderia ter sido uma opção dele.

Chegou o momento que ele precisava seguir seu caminho profissional sozinho. E seguiu, claro não deve ter sido fácil, mas tinha que seguir. Porém, sua estrela brilhou, a compra da Volkswagem 1978 mudou a cultura do empresário Carlos Gaspar. Ele que só enxergava o limite da Praia Grande indo em direção ao interior. De repente começou a ver um mundo novo. Viajar, conhecer novos projetos e isso foi um divisor de águas na sua carreira.

Com a criação da Auvepar surgia um novo empresário. Não mais aquele dos secos e molhados. Surgiu o Carlos Gaspar que precisava aprender sobre outra forma de negociar e entender outras pessoas. Como consumiam e todo um processo de produção até entrega de um carro. Num momento difícil e de muito experimento, diferente do mercado de hoje que as facilidades são grandes. E ele teve que reaprender e conseguiu.

Mas, o que leva uma pessoa que já conquistou tudo que podia conquistar continuar a trabalhar? Ele responde com uma simplicidade assustadora. “Vontade de ser útil ainda”. Ele gosta de manter contato com seus funcionários que estão com ele há anos.

E isso enriquece sua vida. Tive a ousadia de perguntar se ele se achava pão duro e de forma tranquila respondeu. “Não, tenho tudo do bom e do melhor na minha casa e em minha vida” e eu entendi. Carlos Gaspar não faz o estilo empresário hollywoodiano e estrela fashion. Não é consumista do padrão que se vê hoje em dia. Gasta sim, mas nas suas viagens, mora bem, come do melhor e não precisa contar para ninguém. Não vive abastecendo a curiosidade de muitos e a vaidade de alguns que acham que vencer é sinônimo de aparecer. É um intelectual, culto, adora ler, e também não precisa contar para ninguém. Tem vaidades sim: de levar seus amigos em casa, para conversar, falar de literatura, comer algo gostoso, mostrar seus livros e isso do jeito dele é saborear seu sucesso. De ser um homem reto, que chegou onde está e poder andar de cabeça erguida. Ele tem esse direito.

Muitas vezes provoquei uma resposta mais dura dele, porém seus comentários nunca foram pessoais, sempre eram análises do geral. Ele é ponderado e pensa muito antes de falar. Claro, que não pensem que este jeito manso de falar não tem um homem que quando precisa dar um soco na mesa e se for para dizer um desaforo, ele diz.

Falo sobre política, se ele poderia ser candidato ou se teria coragem de iniciar um novo negócio. E tenho uma aula de sensatez. “Sei o meu real tamanho, para política não estou mais na idade e para iniciar um novo negócio o mercado está mais agressivo e não teria condições de competir”. E sobre política lembro uma frase de Eça de Queiroz, o autor do primeiro livro que leu e acho que talvez ele pense assim: “Os políticos têm todos a mesma política”.

No final, eu que conhecia de longe o empresário, acabei descobrindo muito mais. O marido orgulhoso do casamento que tem, o pai que tem na sua filha uma grande paixão. Um homem de 69 anos, que em dezembro fará 70, e que ainda se emociona ao contar dos seus feitos no início da carreira. Conheci o empresário e empreendedor que foi capaz de numa época onde os filhos não ousavam a teimar com os pais, apostar na fábrica de óleo babaçu e deu certo. Do visionário que percebeu 31 anos atrás, no automóvel e hoje é uma realidade. O escritor que já publicou 5 livros com que acaba de publicar: a vida do imortal senhor Antonio Lobo. Acima de tudo do ser humano que venceu, mas apesar de tudo conseguiu o que poucos conseguem: ter amigos de verdade.

Carlos Gaspar consegue viver uma vida rica material, mas nunca de ostentação. Tem a sensatez de saber o seu real tamanho e também da sua importância como homem na sociedade.  De ter me dado a oportunidade de fazer essa matéria. E termino com um pensamento de Abílio Diniz que para Carlos Gaspar é um dos maiores empresários do país. “Quando olho para trás e analiso minha vida, acho que ela pode ter sido tudo, menos normal e monótona”. Este pensamento poderia ser de Carlos Tadeu Pinheiro Gaspar , o Carlos Gaspar da Auvepar.

Um negócio com Carlos Gaspar

Nome: Carlos Tadeu Pinheiro Gaspar.

Idade? 69 anos.

Dia e mês que nasceu? 5 de dezembro.

Signo? Sagitário? Acredita? Há certas coincidências.

Cidade onde nasceu? Viana-Maranhão.

Casado? 45 anos com Paula Gaspar.

Filhos? Uma. Socorro Gaspar.

Quando começou a trabalhar? Aos 10 anos.

Qual foi seu primeiro emprego? De serviços gerais no armazém do meu pai Armando Gaspar, na Rua da Estrela.

Quando descobriu que era isso que queria? Não tive opção, foi natural.

O que faz nas horas livres? Ler, escrever, ver TV com minha família.

O que não pode faltar na sua mesa? Papel, caneta e uma máquina de calcular.

Um lema de trabalho? Trabalhar com resultado.

Pessoas importantes? Minha filha, meu pai, minha mulher e meus irmãos.

O que representa a sua família? A minha segurança. Sem minha família eu me sinto perdido.

Seu grande amor? São dois: minha filha e minha esposa.

Saudade de alguém? Dos que já morreram: meu pai, minha mãe Conceição de Maria, meu irmão mais velho José Gaspar.

O 1º negócio a gente nunca esquece? A compra da fábrica de óleo.

O 1º carro a gente nunca esquece? Um Fusca 1960.

O 1º cliente a gente nunca esquece? Esqueci o nome, mas foi uma senhora na época da Auvepar. No armazém tiveram muitos.

Um bom empresário é aquele que…? Trabalha com vista no futuro e com honestidade.

Um bom carro é aquele que…? Não dá problema.

Qual foi o 1º livro que leu? Foi de Eça de Queiróz.

O senhor é mais escritor ou um empresário? Sempre fui um empresário escritor.

Por que comprar um Kia? É a melhor marca e mais moderno.

Uma alegria no trabalho. Minha equipe de funcionários. Entrosamento com os empregados.

O que nunca beberia? Cachaça.

O que nunca comeria? Rã.

Tem pretensões políticas? Não, mas já tive na área executiva.

Se voltasse no tempo mudaria alguma coisa? Entraria para magistratura.

O que nunca esquece? Meu pai.

O que é o passado? Um mestre que você não é obrigado a seguir todas as lições.

O presente? Um presente de Deus.

O futuro? Só a Deus pertence.

O que mais marcou sua carreira? Entrar na área de carros.

O que mais deixa o Carlos Gaspar triste? Decepções.

É supersticioso? Um pouco.

Acredita em quê? Deus e no destino.

Quem espera sempre alcança? Nem sempre.

O mercado de carro hoje é profissional? Tem que ser profissional, o amador está fora.

Como você analisa a concorrência de um modo geral?

Saudável, com algumas exceções.

No conceito de marketing a venda é a necessidade das empresas e o marketing do cliente. O senhor acha que alguns empresários ultrapassam este conceito de venda voltada para empresa e esquecem totalmente o cliente? Esquecem e acabam querendo vender a qualquer custo.

Abriria um negócio novo? Sei meu real tamanho. Tem que conhecer muito do negócio e o mercado está cada vez mais agressivo.

Um grande empresário no Brasil? Abílio Diniz.