Manoel Maria Correa de Almeida Plantier: tudo vale a pena para este executivo

Publicado 10 de outubro de 2011

Atualizado em 20 de maio de 2019

No fim do mês de setembro, tive o prazer de entrevistar um empresário que sempre sonhei em um dia conversar. Para mim, é mais um vitória, pois diversas vezes tentei chegar perto do meu entrevistado, mas alguns problemas ou para mim, a vontade de Deus, não deixaram minha entrevista acontecer. Meu foto digital deste mês é com Manoel Maria Correa de Almeida Plantier, que me surpreendeu pela forma pragmática que leva a sua vida, e não posso negar que me surpreendeu também pela forma dócil que tratou este simples jornalista.

Logo neste início quero esclarecer que tinha uma visão destorcida do homem Plantier, e neste momento me curvo ao pré-julgamento, sem antes ter dado o direito de defesa a um homem que, acima de tudo, soube passar com dignidade por todos os obstáculos que a vida colocou na sua frente.

Por que escrevo assim? Simples, foi passado que ele era um homem muito duro e ríspido na forma de falar, e neste ponto fico envergonhado, pois o tom de voz elevado, que assusta no primeiro momento, nada mais é do que o timbre forte e uma leve deficiência auditiva que o obriga a usar um aparelho auditivo, e por isso faz este “tenor” falar mais alto do que o normal.

Cheguei na hora marcada, e lá estava meu entrevistado: sentado em sua mesa. Logo de início, chamou-me a atenção a porta do escritório dele estar aberta e não era por minha visita, é um hábito dele administrar assim.

Uma sala simples, bem executiva, ligada de perto com sua secretária Maria José que o acompanha há anos. Claro, sendo ele um homem importante, não consegui imediatamente começar minha entrevista, pois algumas coisas aconteciam e ele precisava resolver.

Para quem não sabe, Plantier é um vencedor em todos os sentidos. Um homem que começou sua carreira numa fábrica de compensados, e hoje dirige um grupo com mais de 500 profissionais e não quer parar.

Quem diria que aquele menino nascido em Portugal, que perdeu o pai cedo e teve que ir literalmente à luta, pois Plantier foi à guerra e lutou na revolução dos cravos em Portugal, seria este grande executivo que é hoje.

Aos 15 anos perdeu seu pai, ficou com sua mãe e seus 4 irmãos, começou a trabalhar como arquivista, foi para guerra com 19 anos, com 22 voltou a trabalhar na fábrica de compensados, aos 27 anos já era o gerente de centenas de funcionários e tinha tudo para levar uma vida profissionalmente tranquila. Que nada, agora que começa a história do Plantier.

Uma infância difícil. Estudou em colégio interno dos 7 aos 11 anos, pouco conviveu com seu pai. A mãe, dona Maria Tereza de Almeida Plantier, não queria ficar separada do filho, mas naquela época pouco a mulher podia falar.

O nome Plantier é Frances, pois o pai, Emílio Paulo da Fonseca Plantier, era português com descendência francesa, mas em virtude da guerra preferiu ficar como português.

A vida até aquele momento parecia boa, Plantier já comandava uma empresa com mais de 850 funcionários, mas, em virtude do momento que vivia em Moçambique, de repente viu seu mundo começar a cair novamente, quando foi acusado injustamente numa manchete de um jornal como alguém que fugia das linhas do regime da época.

Teve que sair fugido e só com a roupa do corpo, já era casado e teve que fazer uma peregrinação pela África do Sul até chegar a Portugal, e de lá vir para o Brasil.

Chegou ao Brasil em 1976, mas sua esposa não queria ficar aqui e em 1977 retornou a Portugal. Porém, em virtude da revolução e o país que não vivia um momento bom, foi muito difícil recuperar a forma de vida que tinha.

Montou seu primeiro negócio, um mini-mercado com sua tia, sem rentabilidade e muito fiscalizado pelos comunistas, que atacavam e chamavam as pessoas que voltavam para Portugal de “retornados”, de forma pejorativa, no sentido de humilhar os patrícios, e por isso, o seu primeiro negócio não foi muito a frente.

Apaixonado pelo Brasil, que foi apresentado pelo seu sogro, que na época era o responsável pela empresa Alpha, mesma empresa que hoje ele dirige, veio tentar a sorte numa fábrica de compensados em Manaus, no ano de 1978.

Mais uma tristeza na vida de Plantier: o local não era bem em Manaus, e sim no interior, então imagina. Se nos dias de hoje já é meio complicado trabalhar no interior do Amazonas, numa fábrica de madeiras, imagine naquela época.

Não deu outra, largou tudo e veio para São Luís. Desempregado, sem dinheiro e nenhuma perspectiva de vida, ou seja, mais um recomeçar para Plantier. Como corre em seu corpo o sangue português que gosta de trabalhar, seu sogro ofereceu um emprego de vendedor da Scania, que de pronto aceitou, e aí já são 33 anos vendendo Scania na vida do Plantier.

Trabalhador, organizado e talentoso, em 1980 já era gerente de vendas. No ano de 1981 foi convidado a se tornar diretor em São Luís, e em um ano e meio já era diretor nacional.

Quando assumiu o controle da empresa, eram 50 funcionários e um faturamento anual de R$ 10 milhões de reais. Hoje são 500 colaboradores sobre seu comando, e um faturamento de R$ 500 milhões anual no Maranhão, Piauí e Fortaleza.

Plantier não tem formação superior, mas tem a formação da experiência, porém não abre mão de aprender. Sua maior fonte de inspiração são seus funcionários e tem muito carinho por eles. O funcionário mais antigo é o entregador técnico Raimundo Barbosa, com 35 anos de casa, dois a mais que ele, e que Plantier fala com muito carinho do amigo.

Plantier, apesar de mostrar ao contrário, pela forma forte de se expressar que no início desse texto expliquei o motivo, pode até passar um ar autoritário, mas é uma pessoa doce e que se comove com o seu próximo.

Não cita números, mas as empresas que dirige são: Renault, Nissan, Alpha, Scania e Volvo, onde também são feitos trabalhos sociais, além de investir na qualidade de vida dos funcionários.

Claro que, como bom executivo, não dá para ser amado por todos, pois muitas vezes tem que dizer não, e nem sempre é bem vindo pelas pessoas, mas falar não faz parte de quem tem objetivo e quer vencer sempre.

Acha que não basta pagar impostos e sabe que o dinheiro nem sempre é bem utilizado pelos governantes, por isso acha que dentro das empresas os executivos precisam dar o melhor para seus colaboradores.

Fica emocionado quando fala dos amigos que começaram com ele na Alpha e já se foram, e também dos amigos que o ajudaram quando chegou aqui em São Luís e abriram a porta para comprar os produtos que vendia, amigos como: Mário Mendes, Carlos Gaspar, Francastro, senhor Moreira (revendedor de cerveja Brahma) e muitos outros que falta espaço para colocar.

Gosta de viver na cidade, é bem urbano, já realizou seu sonho de levar o Grupo Alpha onde está hoje, mas não se iludem, pois dentro deste português de 64 anos, pulsa a mesma força de quem chegou aqui há cerca de 30 anos, por isso ele não para, ainda quer continuar crescendo.

Sua rotina de trabalho é bem simples, mas claro intensa, chega às 8h15 da manhã e às 18h30 vai embora. Trabalha de segunda a sexta, e aos sábados e domingos visita os pontos de vendas das empresas que dirige.

Acredita que o bom executivo tem que ter visão do futuro, dinamismo, criatividade, perseverança e pensar positivo para ter condições de ultrapassar as grandes dificuldades. É admirador do empresário Antonio Erminio de Moraes, do Grupo Votorantim.

Morre de saudades de Moçambique e dos amigos que fez lá, não guarda rancor de ninguém, que para ele é um sentimento mesquinho, sabe que é impulsivo, porém se arrepende e pede desculpa.

Pobreza, miséria e violência ainda assustam e entristecem este homem de grandes batalhas, de algumas derrotas, mas de grandes vitórias.

Para este luso-brasileiro, apaixonado pelo Brasil e um amante do Maranhão, tudo valeu a pena e vem valendo a cada dia. Para mim, foi uma honra entrevistar o executivo Plantier, descobrir o homem Plantier e no final entender que os dois são os mesmos.

E termino com os versos de uma música que foi proibida na época de revolução em Portugal: “Em cada esquina um amigo/ Em cada rosto igualdade/Grândola, Vila Morena/Terra da fraternidade.”

Plantier fez do Brasil sua terra, e em cada esquina fez amigos, vê em cada funcionário igualdade, fez do Maranhão seu eterno amor, uma terra fraterna e de povo encantador.