Antônio Noberto: uma história de paixão por São Luís

Todo Conceito Perfil por

Luiz Almeida

 

Estamos de volta com este nosso trabalho de contar um pouco da vida de pessoas que fazem a história do nosso Maranhão. Acredito muito que devemos nos movimentar para conquistar o que desejamos e deixar que as coisas de Deus, vão se encaixando neste processo.

Não foi por acaso, mas, de muito procurar, que encontrei o nosso primeiro perfil, desta nova série, que é nada mais, nada menos, que o turismólogo e historiador Antônio José Noberto da Silva.

Antônio Noberto

É um perfil onde escrevo sobre Antônio Noberto. É muita ousadia da minha parte, escrever sobre um imortal, membro fundador da Academia Ludovicense de Letras (ALL), onde ocupa a cadeira número 1, eleito presidente com 90% dos votos.

Nasceu em Pentecoste, no Ceará, e quando fala a cidade, ele diz quantos km tem de distância até a capital, sua localização geográfica precisa, onde é a entrada, se é pela direita da estrada ou esquerda.

Durante o nosso bate papo esta forma de localizar um fato ou um lugar, foi uma constante. Sua precisão para datas, nomes e localizações é surpreendente.

Noberto teve uma infância simples, aos 5 anos vendia tomate. Teve que lidar cedo com a morte do pai e graças suas duas irmãs, dos seus nove irmãos, que já moravam no Maranhão, o Estado ganhou de presente este cearense ludovicense, com título de cidadão e tudo mais que tem direito.

Sempre estudou em escolas públicas, era um aluno do estilo normal, perto da capacidade que é hoje e, que sempre ficava entre os 10 da classe. Hoje, sem medo de errar, fica fácil entre os primeiros de qualquer lugar.

Apesar de ter que trabalhar muito cedo, o que muitas vezes faz com que uma criança amadureça muito rápido, ele ainda lembra com carinho das suas brincadeiras de rua: patinete de rolimã e de pegar uma lata, colocar areia, fazer dois furos, amarrar um barbante e puxar como se fosse um carrinho, conhecido como rodo. No atual momento do país nem este tipo de brinquedo as crianças têm, pois, elas estão tentando é sobreviver.

Só para você entender. Cerca de 50 milhões de brasileiros vivem na linha da pobreza, o equivalente a 25,4% da população. Os dados foram divulgados no final de dezembro de 2017, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e fazem parte da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2017 – SIS 2017.

Noberto aproveita este momento que falo da pobreza e traça uma relação da nossa colonização e o momento que vivemos. Ela não nos ofereceu muito e tudo se torna caro, não só financeiramente, mas, em vários aspectos como na educação.

Cita o exemplo da Argentina colonizada pelos espanhóis, com um IDH 0,80, que mede a qualidade da saúde, educação, longevidade e renda. Eles têm universidade desde 1500 e a nossa primeira seria de 1901 mais ou menos.

Neste ponto ficou bem claro, para mim, esta posição dele em relação a nossa colonização e como poderia ter sido melhor. Sua posição sobre que se fossemos colonizados pelos franceses seria melhor é bem clara e embasada.

O bom é que, mesmo com este posicionamento, não age com uma visão

de militante radical de achar que o seu pensamento é melhor, ou certo

ou superior ao outro

Procura abrir sempre um canal de discursão para o contraditório e isso, faz de Antônio Noberto uma pessoa boa para conversar e debater ideias.

Ao participar de um debate de alto nível sobre a fundação de São Luís, com a historiadora professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix mostra o que disse acima. Tiveram momentos eletrizantes, mas que ao final, o conhecimento trocado entre eles foi de grande importância, e o grande vencedor foi o público presente.

Ouvir o mestre Antônio Noberto falar é algo encantador, a cada fala sobre a história do Brasil, do Maranhão e de São Luís, sobre os séculos XVIII, XIX, XX e XXI, é um verdadeiro deleite. Ele tem uma facilidade de relacionar acontecimentos passados com os atuais de forma impressionante, levando o ouvinte a viajar em pensamentos e se vendo no local que Noberto falou.

Resolvo perguntar qual o seu primeiro livro e autor, e ele responde Júlio Verne, um francês, como não poderia deixar de ser, e a “Viagem ao Centro da Terra”.

Júlio Verne escreveu obras de aventura e ficção científica que influenciaram gerações.

O que Noberto faz hoje, com o seu saber, e sua forma de expressar, é o que Júlio Verne fez nos seus livros: levar-nos a imaginação de como foi, como poderia ser e como é nos dias de hoje.

Não tem ficção, pois, ele usa a ciência, fruto de muita pesquisa, e passa os seus conhecimentos de uma forma que motiva a imaginação das pessoas e aguça a curiosidade delas. Ele consegue que formem a sua própria leitura sobre os acontecimentos e posicionamentos que Noberto apresenta com a liberdade de concordarem ou não.

Um intelectual como poucos que já entrevistei, consegue traduzir numa linguagem simples, sobre tantas informações importantes, com valor histórico, de fácil entendimento e compreensão. Ele não intelectualiza a informação, simplifica, sem torná-la simplória.

Ele não intelectualiza a informação,

simplifica,

sem torná-la simplória

Quando perguntei se não morasse em São Luís, onde gostaria de morar, Antônio Noberto não fez média, do tipo: não consigo me ver morando em outra cidade.

Diz que moraria na Serra da Ibiapaba em Viçosa, no Ceará, porém, a paixão por São Luís é tão grande, que na cidade tem um pouco da história do Maranhão. Os franceses antes de fundarem nossa capital, saíram de onde hoje é o bairro do São Francisco, em São Luís, e foram para Viçosa.

Antônio Noberto atualmente trabalha no Policia Rodoviária Federal (PRF) e quando acabo de escrever onde ele trabalha me vem a mente uma relação interessante: Policial Rodoviário, estrada, pessoas viajando, Júlio Verne, sonhar, imaginar, desbravar lugares que contam a nossa história, franceses em São Luís, ou seja, até como profissional rodoviário, com perdão do trocadilho, as estradas dele se cruzam sempre.

Na PRF ele é responsável pelo setor de comunicação que tem de lidar com jornalistas e parlamentares. Entre os profissionais do jornalismo ele é uma unanimidade, pois, todos gostam dele.

Sempre gentil e solicito, está pronto para passar as informações diariamente sobre tudo que acontece nas estradas federais e estaduais que cortam o Maranhão.

No grupo de whatsapp que participa, bem cedo já tem notícias, pois, para quem não sabe, ele acorda, todos os dias, às 5:30 da manhã e costuma dormir lá para meia noite, ou seja, o homem não para, só em sinal fechado para dar o exemplo.

Num momento da nossa entrevista, pergunto sobre algo que marcou muito sua vida nas rodovias e ele se emociona ao falar que foi um acidente, aqui no Maranhão, onde uma família que morreu dentro do veículo e uma criança de mais ou menos 4 anos, sentada na cadeirinha, morta com o pescoço quebrado.

Mas, imediatamente contou outro caso engraçado, pois, para um homem com tamanha energia boa, ele não deixa a tristeza tomar conta durante muito tempo.

Foi de um motorista que chegou e pediu para que eles aplicassem uma multa qualquer. Ele perguntou o motivo deste condutor querer uma multa, já que não fez nada. E, de pronto, vem a resposta da figuraça: “É que ele tinha dito para a mulher que havia viajado e não viajou. A única prova seria uma multa na estrada”. É óbvio que ele não foi multado e deve ter tido um grande trabalho para convencer a esposa que fez a tal viagem.

Apesar de já saber alguma coisa sobre este projeto que o historiador tem, fico surpreendido ao conhecer mais detalhes. Ele é o idealizador do passeio turístico musicado no cemitério do Gavião,“Cemitour do Gavião”, que apresenta a história do Maranhão a partir das personalidades que estão enterradas no Gavião.

,“Cemitour do Gavião”

Eu não sei você nobre leitor e leitora, mas, eu tenho uma grande fascinação por cemitérios onde personalidades estão enterradas. E quando comento que amava visitar um dos mais importantes cemitérios do Rio de Janeiro e até mesmo do Brasil, o São João Batista, me surpreendo mais uma vez. Ele cita algumas personalidades que estão enterradas lá, diz que já visitou o cemitério e pasmem, também visitou mais de 23 Estados e outros países, pesquisando as personalidades que estão enterradas para seu livro sobre o turismo no cemitério. Genial a ideia.

Vou citar alguns túmulos e cemitérios visitados: São João Batista Santos Dumont, Clara Nunes, Carmem Miranda, no cemitério do Catumbi no Rio de Janeiro Catulo da Paixão Cearense, Chiquinha Gonzaga e na França no cemitério Père-Lachaise  Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, Alan Kardec e Chopin .

Noberto no túmulo de Alan Kardec

Independente de religião e apenas falando do lado espiritual, Noberto está no lugar certo, fazendo o que deve ser feito. Talvez um resgate seu, dentro do resgate da história do Maranhão em especial de São Luís? Talvez, quem sabe.

O certo que este ser humano especial, culto, sem o pedantismo de muitos que são, comove e empolga a todos com sua fala. De família humilde, soube reverter esta situação e se transformar num homem que conta a história de São Luís e que passa a fazer parte também desta história, que é e será contada por outros, dizendo que um dia existiu em São Luís, um cearense, pra lá de ludovicense que ousou em contrapor a relação benéfica que poderia ser nossa Ilha do Amor se fosse colonizada pelos franceses em relação a que foi pelos portugueses.

Pode se dizer que lembra também a luta que a França teve quando resolveu fundar São Luís, que criou a escola onde, indiozinhos e francesinhos estudavam no mesmo banco. Não é isto que Antônio Noberto faz? Não é mostrar numa exposição, a França Equinocial e a importância dela para nossa capital, no Forte Santo Antônio e dividi-la com todos independentes de raça e religião.

A grande diferença de Noberto e os franceses que lutaram em São Luís, é que ele não perdeu a guerra, pelo contrário, a cada dia que conta uma história ele vai vencendo pequenas batalhas.

Um sonhador sim! Um realizador sim! Mas acima de tudo, um apaixonado pela nossa história que está sempre acessa, como uma paixão deve ser, quente, vibrante, intensa, a paixão de um modo geral tem tempo de validade, mas a paixão de Noberto por São Luís não vai acabar nunca.

Obrigado ao cearense Antônio Noberto é o que os ludovicenses deveriam dizer sempre. E obrigado pela honra e ousadia de escrever sobre você.

Livros publicados

1 – A influência francesa em São Luís: uma oportunidade de segmentação do mercado turístico local (EDICEUMA. 2004)

2 – Só por uma estação: uma viagem ao Brasil (2007)

3 – França Equinocial: uma história de 400 anos (UNIGRAF. 2012)

Currículo

Graduou-se em Turismo pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Iniciou Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, sem, no entanto, pelas circunstâncias, dar continuidade ao curso.

É pós-graduado em Gestão Mercadológica e Consultoria em Turismo pelo Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, e pós-graduando em Gestão Empresarial pelo ISAN/FGV – Instituto Superior de Administração e Negócios / Fundação Getúlio Vargas. É membro fundador da Academia Ludovicense de Letras (ALL), onde ocupa a cadeira número 1, patroneada pelo capuchinho francês Claude Abbeville.

Antonio Noberto na Academia Ludovicense de Letras

Foi eleito em 16 de dezembro de 2017 para exercer a presidência da ALL no biênio 2018 e 2019. Eleito também na mesma data para o Conselho da Cruz Vermelha Brasileira no Maranhão. É membro do Conselho do CEPROMAR / Sítio Piranhenga.

Servidor federal do Departamento de Polícia Rodoviária Federal – DPRF/MJ desde 1994. Pesquisador, escritor, professor, palestrante e guia de turismo (SENAC/EMBRATUR),